Queimando calorias

Dia 27 de Julho, 16:00h, Parque Jardim dos Namorados,

Estávamos eu e Doug sentados perto da quadra, esperando outras pessoas que iriam jogar basquete com a gente, quando se passa diante de nossos olhos esse epsódio: para um Renault Clio numa vaga a uns 20 metros da gente e do carro descem duas meninas semi-gordas (daquelas que não precisam, mas querem perder uns 10 quilos) vestidas como se fossem malhar. Daí depois de um curto alongamento elas começam a caminhar em nossa direção. Acontece que mal a odisséia delas havia começado, começa a pingar uma chuva fraca. E elas param, discutem e começam a andar na direção contrária de volta ao carro. Em frente ao carro, elas decidem continuar a caminhar mais um pouco, só que novamente a chuva ameaça a voltar, e diante disso elas desistem, entram no carro e vão embora.

Ok, agora uma análise mais profunda. O que se passava pela cabeça delas? Para responder a isso vamos voltar um pouco no tempo...

Dia 1º de Janeiro, 00:01h, em alguma festa da vida,

Uma menina para a outra: Eu prometo que esse ano eu perco dez quilos! Tou precisando muito emagrecer!
A outra: Ah, eu também, quando você for malhar me chama! Eu prometo que vou!

E durante 7 meses nada se fez... Até que:

Dia 28 de Julho, 12:00h, na casa da primeira menina,

Após comer 3 pratos de almoço, a menina ainda se arrisca a comer de sobremesa uma colherada de pavê. E depois com a consciência pesada graças ao pavê (porque o que engorda é comer doce, os 3 pratos de arroz com feijão que vieram antes dele são ignorados na mente dessa garota), ela se lembra da promessa que tinha feito 7 meses antes, e se veste com sua roupa de malhação, que ela comprou em Fevereiro crente que ia criar coragem para entrar na academia e nunca usou. Liga para a amiga:

- Amiga, estou saindo para dar uma corrida na orla, tá afim de ir comigo?
- Correr na orla?! Mas eu tenho um bocado de coisa pra fazer hoje...
- Vamos! Vão ser só umas duas horinhas...
- Ah, quer saber? Vamos! Estou indo praí.

A segunda também se veste com seu uniforme de malhação e chega na casa da primeira. Mas é só quando está tudo pronto para se iniciar o exercício, que elas se tocam que não tão com nenhuma vontade de fazer isso, e daí começam a enrolar, dando desculpas para si mesmas para não sair naquele exato momento:

- Que bom que você veio! Olha, tou pronta já, se quiser a gente já pode ir indo... Aliás, droga! Tenho que esperar o técnico da TV...
- Não tem problema não, a gente espera...
[O técnico chega às 15h]
- Pronto, agora a gente pode sair, deixa só eu avisar minha mãe onde estou indo.
[Liga para a mãe e gasta, propositalmente 40min numa ligação que no fundo ela sabia que deveriam ser de apenas 4]
- Vamos então correndo pra orla!
- Pera! Não é melhor a gente ir de carro pra orla, e só correr quando chegar lá? Se não a gente cansa... [MAS CANSAR NÃO É O OBJETIVO DE ESTAR INDO?! E IMPORTA SE VAI SER AQUI OU ALI? - Nota do autor]
- É mesmo, boa idéia.

E daí nós voltamos ao ponto inicial da narrativa:

Dia 27 de Julho, 16:00h, Parque Jardim dos Namorados,

Desce do carro, olha pra cima enquanto alonga, e dá graças a Deus que parece que vai chover. Nenhuma das duas estava afim de fazer aquilo, mas o orgulho não permitia admitir para a outra. Quando iniciam a caminhada que começa a pingar:

- Ah não! Logo hoje! Que perseguição! Até antes de a gente sair nem tava chovendo, e agora isso!
- Putz... É... Acho melhor a gente voltar...
[Chega no carro - consciência pesa de novo, lembranças do pavê]
- Ah, já estamos aqui, vamos correr na chuva mesmo!
- É, vamos.
[Cinco segundos depois chuva engrossa - só para constar, estava perfeitamente suportável, era como se fosse uma goteira]
- É, não vai dar mesmo, vamos voltar pra casa, amanhã a gente tenta de novo [Ela já tem uma desculpa para não sair amanhã].

Depois de deixar a amiga, ela chega em casa morta de cansada, perguntam para ela o que ela fez, e ela diz que está malhando desde o meio-dia (na cabeça dela o exercício começou quando ela pôs a roupa), isso cheia de orgulho.

A imagem lá em cima é só para chamar atenção, e não tem nada a ver com a história.